por Luiz Orlando Carneiro
para o JORNAL DO BRASIL
O saxofonista alto Phil Woods, o mais famoso dos herdeiros estilísticos diretos de Charlie Parker (1920-1955), morreu dia 29 de Setembro de 2015, aos 83 anos, vítima dos pulmões bem avariados pelo antigo hábito de fumar. 25 dias antes, ele se apresentou pela última vez – portando o pequeno recipiente de oxigênio que já usava há muito tempo – num concerto no Manchester Craftsmen's Guild, apoiado por um trio local e pela Orquestra Sinfônica de Pittsburgh, numa reinterpretação do célebre álbum "Charlie Parker With Strings" (Mercury, 1949-50).
O jazz master assim consagrado pela NEA (National Endowment for the Arts), em 2007, começou a brilhar, em Nova York, no início da década de 1950, depois de estudos com Lennie Tristano e na Juilliard School. Integrou as orquestras de Dizzy Gillespie (1956) e de Quincy Jones (1959-61). Logo depois da morte de Charlie Parker, em 1955, Woods casou-se com Chan Richardson, a viúva do seu grande ídolo, e com ela teve dois filhos. O casal separou-se durante o período (1968-72) em que viveram na França.
Nos anos 60 e 70, Phil Woods tornou-se um dos mais cultuados especialistas do sax alto neo bop, disputando o primeiro lugar no pódio com Julian “Cannonball” Adderley (1928-1975) e Art Pepper (1925-1982).
Na condição de líder, Woods deixou uma discografia muito extensa, embora um pouco dispersiva. Antes de zarpar para a França, ele gravou alguns álbuns de sucesso em quinteto com o também saxofonista alto Gene Quill ("Phil and Quill with Prestige", 1957) e em quarteto com o pianista Bob Corwin. Durante o séjour na França, registrou cinco sessões com a sua European Rhythm Machine – um pequeno conjunto que reuniu músicos do quilate de George Gruntz (piano) e Daniel Humair (bateria).
O álbum que marcou o seu retorno aos Estados Unidos, Musique du bois(32 Jazz), é particularmente notável pelas versões de "Samba du Bois" (de sua autoria), Nefertiti (Wayne Shorter) e Airegin (Sonny Rollins), com o apoio de mestres Jaki Byard (piano), Richard Davis (baixo) e Alan Dawson (bateria).
Uma boa seleção de seus quintetos dos anos 80-90 — sempre com os fiéis parceiros Bill Goodwin (baixo) e Steve Gilmore (bateria) — está no CD "Into The Woods/The best of..." (Concord). Nas oito faixas gravadas entre 1987 e 1995, destacam-se também Tom Harrell (trompete, flugel) e os pianistas Hal Galper, Bill Charlap e Jim McNeely.
Da produção mais recente, são recomendados os álbuns "American Songbook, Vol.1" (Kind of Blue, 2002), do quinteto com Brian Lynch (trompete) e Charlap, e "This Is How I Feel About Quincy" (Jazzed Media, 2004), de um noneto formado a partir deste mesmo quinteto fora de série.
Phil Woods sempre gostou do convívio com músicos e alunos bem mais jovens. E o melhor registro disso é um CD gravado em 2010, e lançado no ano seguinte pela hoje vitoriosa saxofonista Grace Kelly (nascida Grace Chung, de pais coreanos).
Quando tinha 14 anos, em 2006, e era aluna do Stanford Jazz Residency Program, Grace foi apadrinhada por mestre Woods. A retribuição veio nesse álbum-homenagem, intitulado "Man with The Hat", editado pela etiqueta Pazz.
A faixa-título, bem bop, é uma homenagem explícita ao padrinho, que participa ainda de outras três das sete faixas do CD: "Love Song", "Ballad for Very Sad and Very Tired Lotus Eaters" (de Billy Strayhorn) e "People Time" (de Benny Carter) — nesta última apenas “colorindo” o vocal de Grace Kelly, que deixa o sax alto de lado.
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