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Showing posts from 2016

UMA ENTREVISTA COM O GRANDE GUITARRISTA KENNY BURRELL, 85 ANOS RECÉM-COMPLETADOS

por Chico Marques Kenny Burrell nasceu em Detroit, Michigan, em 31 de Julho de 1931, há exatos 85 anos. Quando era jovem, pensou em tocar banjo e ukelele como seu pai, ou em cantar no coro da Igreja como sua mãe. Mas como seu irmão mais velho tocava saxofone, ele começou a aprender guitarra para poder acompanhá-lo. Burrell cresceu na cena musical de Detroit juntamente com craques como Donald Byrd, Yusef Lateef, Milt Jackson, Tommy Flanagan e vários outros. Sempre que algum artista de renome passava pela cidade, acabava levando com ele algum jovem artista promissor da cidade. Burrell deixou Detroit em 1950 a convite de Dizzy Gillespie, que o viu tocar, gostou do que viu e ouviu, e o contratou de imediato para uma tournée. Mas ao final da tournée, Burrell deixou a banda de Gillespie para estudar música na Wayne State University, onde se formou em 1955. Substituiu Herb Ellis no Oscar Peterson Trio, e seguiu para Nova York, onde fixou residência, e deu início a uma carreir

CLARICE LISPECTOR CONVERSA COM TOM JOBIM

Publicado originalmente na Revista MANCHETE, 21 de Setembro de 1968 Tom Jobim e eu já nos conhecíamos: ele foi o meu padrinho no Primeiro Festival de Escritores, quando foi lançado meu livro A maça no escuro. E ele fazia brincadeiras: segurava o livro na mão e perguntava: quem compra? Quem quer comprar? Para este diálogo, marcamos às seis da tarde: às seis e trinta e cinco tocavam a campainha da porta. E era o mesmo Tom que eu conhecia: bonito, simpático, com um ar puro malgré lui, com os cabelos um pouco caídos na testa. Um uísque na mesa e começamos quase que imediatamente a entrevista. - Como é que você encara o problema da maturidade? É terrível ter quarenta anos? - Tem um verso do Drummond que diz: “A madureza, esta horrível prenda...” não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente. - Não faz mal, Tom, a gente exige bem. - Com a maturidade a gente passa a ter consciência de uma série de coisas que antes não tinha, mesmo os instintos, os mai

PASSEANDO NO JARDIM COM MR. BIM (por Chico Marques)

O ano era 1985. Brasília estava comemorando 25 anos, e o Governo do Distrito Federal decidiu promover no aniversário da cidade uma apresentação da Sinfonia de Brasília , composta por Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes em 1960 para a inauguração da nova capital. Para isso, convocou o próprio Tom Jobim para coordenar uma revisão do arranjo da Sinfonia original -- um ítem pouco conhecido em seu songbook -- e reger a peça à frente da Orquestra Jovem da Escola de Música de Brasília n o dia 21 de Abril, diante do prédio do Congresso Nacional. Vinícius de Moraes tinha morrido há menos de dois anos, e o resgate da peça, de certa forma, serviria como uma homenagem um pouco tardia, mas oportuna, à memória do poetinha. Pois bem: minha irmã mais nova, Thaís Marques, pianista (hoje, professora de música em uma Universidade em Belo Horizonte), fazia parte da Orquestra Jovem da Escola de Música de Brasília, e seguia todo dia para as dependências modernosas da Escola

CELEBRAMOS O CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CHARLIE CHRISTIAN, O GUITARRISTA DE JAZZ QUE INVENTOU O SOLO DE GUITARRA

por Chico Marques Não é exagero algum afirmar que Charlie Christian está para o jazz assim como Robert Johnson está para o blues. Ambos foram guitarristas absolutamente inventivos, autodidatas pioneiros com um senso harmônico incomum. Ambos morreram jovens demais: Christian aos 25 anos. Johnson aos 27. Charlie Christian foi o guitarrista da Orquestra de Benny Goodman entre 1939 e 1942. Por mais que sua musicalidade soe perfeitamente integrada aos padrões dos dias de hoje, é importante lembrar era tudo muito diferente na década de 1930, quando Christian introduziu um novo vocabulário ao ato de tocar guitarra. Christian não só reinventou o instrumento como ainda o tranformou num ítem fundamental para qualquer formação de jazz, desde os combos básicos às big-bands e orquestras. Foi, com toda a certeza, o primeiro guitar hero da história. A guitarra que Charlie Christian tocava era uma Gibson ES-150, e ele a solava como se fosse um saxofone.