O ano era 1985.
Brasília estava comemorando 25 anos, e o Governo do Distrito Federal decidiu promover no aniversário da cidade uma apresentação da Sinfonia de Brasília, composta por Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes em 1960 para a inauguração da nova capital.
Para isso, convocou o próprio Tom Jobim para coordenar uma revisão do arranjo da Sinfonia original -- um ítem pouco conhecido em seu songbook -- e reger a peça à frente da Orquestra Jovem da Escola de Música de Brasília no dia 21 de Abril, diante do prédio do Congresso Nacional.
Vinícius de Moraes tinha morrido há menos de dois anos, e o resgate da peça, de certa forma, serviria como uma homenagem um pouco tardia, mas oportuna, à memória do poetinha.
Pois bem: minha irmã mais nova, Thaís Marques, pianista (hoje, professora de música em uma Universidade em Belo Horizonte), fazia parte da Orquestra Jovem da Escola de Música de Brasília, e seguia todo dia para as dependências modernosas da Escola para participar dos ensaios que aconteciam por lá.
Meus irmãos Fabrício, Fábio e eu havíamos sido escalados para buscá-la no final do ensaio na boa e velha Caravan branca do meu pai e trazê-la para casa -- e como os ensaios sempre atrasavam, era comum ficávamos aguardando por ela na Cantina da Escola.
Um belo dia, estávamos sentados numa mesa externa da Cantina quando, de repente, olhamos para o jardim e vimos um senhor com um jeitão bastante familiar passeando pelo gramado e observando com cuidado planta por planta.
Era ele, claro: Mr. Bim, em pessoa.
Meio acanhados, nos aproximamos e puxamos conversa com o Maestro, que não só foi bastante receptivo como ainda nos brindou com uma breve aula de jardinagem, explicando que algum paisagista incauto havia misturado plantas da Mata Atlântica em meio a plantas do Cerrado naquele jardim -- que estava estranhamente desarmonioso, mas ainda assim muito bonito e vivo.
A aula durou, se muito, 5 minutos.
Mas para nós foi uma eternidade, uma espécie de "Passeio nos Campos do Senhor" com um guia que conhecia de cor e salteado todas as plantas e todos os pássaros da Floresta da Tijuca, e que agora estava fascinado com o Cerrado.
Nos despedimos agradecidos e o deixamos em paz com as plantas do jardim.
Mais adiante, quando minha irmã finalmente chegou, comentamos nossa conversa com o ilustre visitante, e ficamos sabendo que naquela semana ele sumira dos ensaios no Teatro várias vezes.
Toda vez que isso acontecia, iam buscá-lo no jardim, pois já sabiam que aquele era o refúgio dele naquele prédio.
Toda vez que isso acontecia, iam buscá-lo no jardim, pois já sabiam que aquele era o refúgio dele naquele prédio.
Não sei se Mr. Bim voltou a Brasília depois daquela apresentação espetacular à frente da Orquestra Jovem da Escola de Música em 1985.
Se voltou, com certeza deve ter procurado por outros jardins como aquele para dar continuidade a sua investigação.
Eu vim embora de Brasília em 1986 e, três anos mais tarde, tive a chance de ver Mr. Bim e sua banda ao vivo em São Paulo, no saudoso Palace.
Se voltou, com certeza deve ter procurado por outros jardins como aquele para dar continuidade a sua investigação.
Eu vim embora de Brasília em 1986 e, três anos mais tarde, tive a chance de ver Mr. Bim e sua banda ao vivo em São Paulo, no saudoso Palace.
Enquanto o show rolava, lembrei sei lá quantas vezes daquele encontro casual no Jardim da Escola de Música de Brasília.
E no dia em que chegou a notícia do seu falecimento em Nova York, 23 anos atrás, lembrei novamente daquela adorável aula de jardinagem.
E no dia em que chegou a notícia do seu falecimento em Nova York, 23 anos atrás, lembrei novamente daquela adorável aula de jardinagem.
Como esquecer?
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